sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Fracasso Escolar


       O fracasso escolar é um campo novo de pesquisa que os pedagogos, psicanalistas e docentes estão estudando. Mas o que é o “fracasso escolar”? Seriam os alunos que não conseguem entender a matéria, portanto a sociedade afirma que eles são fracassados ou seria a escola que não consegue melhorar seus índices? Logo o Estado considera o colégio um fracasso.
Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8e-ngDIepeCmNWOiEKz8adA6UeKM6bS2QKJRYwhXZusnmvnctypaHbiRyAjW51OGAJPX2T7hXCTJ1zSFwPmlWO-atz_adZWCvEHISzAFqTLnZTac67nopL0wNUv7aOHv0ZeqGxZ8aLXo/s1600/Fracasso+2.jpg

       Neste sentido já vemos uma ambiguidade no tema fracasso escolar, o que mostra a complexidade deste assunto, mas neste projeto vamos tratá-lo como sendo as dificuldades que as crianças possuem em aprender em certas épocas de suas vidas, causando a repetência. Os fatores do fracasso escolar são inúmeros, sendo que alguns são extraescolares e outros acontecem na escola, estando vinculados aos alunos, a sociedade, a cultura ou até mesmo na escola. O estudo sobre o fracasso escolar surgiu a partir do momento que a escola se tornou obrigatória, em função de uma radical mudança na sociedade. Neste período a escola passou a ter o objetivo de formar cidadãos críticos, capazes de interagirem na sociedade para melhorá-la, sendo assim uma educação para todos.
       Segundo fonte do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas) em 2011 constatou que os índices de reprovação do Brasil estão elevados comparados com países desenvolvidos. O Brasil possui 6,9% de reprovação no Ensino Fundamental sendo que índices considerados bons, cerca de 3%. Dois fatores fazem com os índices se elevem no Brasil são: a rede pública de ensino que possui uma taxa de 10,6% de reprovação e os estados do Norte e Nordeste que tem os piores índices nacionais. Muitas vezes uma criança reprova seguidamente na mesma série, mas porque isto ocorre?
       Um dos possíveis culpados é a própria escola junto com o docente. A escola dita um currículo que deve ser desenvolvido pelos docentes, sendo que as avaliações são as tradicionais provas, todo este sistema é hierárquico e na maioria das vezes, a classe dominante esnoba as mais baixas. Deste modo, alguns professores acabam enxergando os alunos como um mal necessário, onde a criança deve repetir os exercícios ou as atividades ditadas pelos docentes. Neste caso, o professor não está preocupado com os interesses dos alunos, não o conhece. Agora, fica a pergunta: como o professor vai ajudar as crianças com dificuldade na aprendizagem?
       Este professor não vai ajudar a criança, ela vai reprovar de ano e o docente pensará que no ano seguinte ela vai conseguir adquirir nota o suficiente para a aprovação. A reprovação não traz uma nova aprendizagem no ano seguinte se o professor não mudar sua metodologia, se ele não se preocupar o psicológico do seu estudante, sem ele confiança e demonstrar essa confiança para o aluno, mostrando que ele é capaz de aprender. Mas, infelizmente são poucos os docentes que fazem isso, e o pior que a maioria dos professores não conhece os efeitos que uma reprovação causa ao aluno.
       A reprovação é um fracasso escolar que acaba abalando o psicológico do aluno, pois muitas vezes ele é menosprezado, debochado pelos seus colegas o que acaba marcando-o profundamente. Segundo a terceira lei de Newton, “toda ação tem uma reação”, este aluno repetente tem grande chance de se tornar aquele aluno complicado de se lidar, principalmente se ele estiver nos anos iniciais do Ensino Fundamental. “O problema do fracasso escolar não é somente um problema educacional. É também um problema com enormes repercussões individuais e sociais.” (MARCHESI. GIL, 2004, 18).
       Segundo Marchesi e Gil: “uma alta porcentagem de fracasso escolar tem sua origem direta nas carências econômicas, sociais e culturais” (MARCHESI. GIL, 2004, 23). Percebemos que o único problema não é o aluno, ele simplesmente é reflexo da sua vida familiar e social. Se ele passa por dificuldade, ele mostra esta inquietação na sala de aula e seu rendimento é inferior. Nesta idade, as crianças já passam por transformações corporais e sentimentais, o que faz com que seu humor varie rapidamente, implicando em problemas afetivos. Num dia o João está brigando com o Pedro, no outro estão comprando picolé juntos, como aponta Souza (1995), os conflitos emocionais bloqueiam a capacidade intelectual da criança, assim ela não consegue prestar atenção, não compreende as atividades e não aprende. Portanto, não basta a criança ser inteligente para aprender, ela deve estar bem emocionalmente e também já ter um nível de maturidade capaz de compreender a importância do aprender.
       Segundo Bossa: “pode-se dizer que o nível de maturação de um indivíduo para a aprendizagem depende do interjogo entre fatores intelectuais e afetivos” (BOSSA, 2002, 24). Se este jogo não estiver equilibrado, a criança prejudicará o processo de ensino-aprendizagem da turma, pois ela ficará inquieta sem entender o significado do conteúdo e tirando a atenção dos seus colegas. Já se ela estiver em equilíbrio com uma boa atividade e com o auxilio do docente na construção do conhecimento, o estudante terá a oportunidade e a capacidade de aprender o conteúdo.
       Bossa afirma: “o apelo do não-aprender tem na angústia o seu motor” (BOSSA, 2002, 60). A angústia pode ser caracterizada como uma insegurança, um sentimento de incapacidade que é sentido pelos estudantes reprovados. Por mais que o aluno fale que ele não se importe com a sua nota, ele esta mascarando o medo de repetir a mesma série novamente, assim ele chama a atenção na sala de aula conversando com outros colegas, contando vantagem sobre os outros e até mesmo debochado de alguns. Essa angústia pode ser tratada com ajuda de especialistas ou até mesmo com o incentivo da família e da escola, o que não pode acontecer é deixar a criança se sentir sozinha, pois deixando o jovem sozinho só vai fazer com que ele não goste da escola, consequentemente aumentando a taxa de reprovação e possivelmente no futuro a taxa de evasão.
       Com isso podemos perceber que além de estar bem emocionalmente, a criança deve ter um bom ambiente social, familiar na sua casa, pois nesta faixa etária dificilmente a criança tem maturidade suficiente para não trazer estes problemas para a sala de aula. Assim sua cabeça esta pensativa nestes problemas e, o aluno acaba muitas vezes repetindo as atitudes dos pais. Por exemplo, se os pais sempre estão brigando em casa, o estudante deve vir para escola agitado, gritando com os seus colegas e consequentemente atrapalhando a aula.
       Como saber se o estudante possui maturidade suficiente para aprender? Ou quando estão passando por problemas afetivos ou emocionais? Isto somente a vivência na sala de aula, o diálogo com os alunos são elementos capazes de responder esta pergunta, pois quanto mais tempo interagirmos com as crianças, mais a conhecermos, sabendo as razões pelas quais o processo de aprendizagem não está avançando.
       A criança é reflexo daquilo que ela passa em casa, na sociedade e na escola. Nós professores não podemos criar um pré-conceito sobre os alunos repetentes, pensar que eles não são inteligentes o suficiente para aprender a matéria. Nós temos que dar mais atenção, procurar descobrir se ele esta passando por dificuldades, como é o ambiente familiar, estes são alguns aspectos que podemos utilizar para entender a não aprendizagem deles. Porém, muitos professores não gostam de se misturar com as crianças, se possível querem viver em mundos separados, ignorando-os. Esses professores estão despreocupados com a realidade das crianças, desta maneira é impossível ajudar este tipo de aluno.
       Ao trabalhar com alunos, o ideal é se aproximar deles, se possível estabelecer vínculos afetivos, mostrando a sua preocupação com eles. Essa preocupação não deve ser somente nos estudos, mas na sua vida pessoal, pois nós professores, deixamos de formar especialistas e estamos formandos cidadãos humanos, capazes de fazer o bem para a sociedade e para si mesmo. Ser professor é trabalhoso, ser professor de alunos repetentes é mais ainda, mas trabalhando com afeição o processo de ensino-aprendizagem se desenvolverá melhor.
       Portanto, vimos que as causas do não aprender são muitas e, contudo, não basta ficarmos de braços cruzados esperando uma melhora do nosso estudante, devemos buscar identificar a causa do não aprender para depois sanar essa dificuldade da melhor forma possível. Para encerrar, uma breve reflexão de Caio Miranda para nós professores, para pensarmos sobre o tipo de docente que querermos ser: os preocupados com nossas crianças ou aqueles que a desprezam. "O verdadeiro sábio avalia claramente o quanto ainda ignora e se torna desde logo humilde e simples, condescendente e solidário, fraternal e honesto".

REFERÊNCIAS

BOSSA, Nadia A. Fracasso Escolar: um olhar psicopedagógico. São Paulo: Artmed, 2002.
Brasil tem maior taxa de reprovação no ensino médio desde 1999. G1. Disponível em: <http://g1.globo.com/educacao/noticia/2012/05/brasil-tem-maior-taxa-de-reprovacao-no-ensino-medio-desde-1999.html>. Acesso em 26 out. 2012.
FIALE, Luciana Amaral. Fracasso Escolar: família, escola e a contribuição da psicopedagogia. Disponível em: <http://www.unifai.edu.br/publicacoes/artigos_cientificos/alunos/pos_graduacao/18.pdf>. Acesso em 23 out. 2012.
LACERDA, Chislaine Keile Fernandes Ruiz. Repetência e fracasso escolar. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1049-4.pdf>. Acesso em 26 out. 2012.
MARCHESI, Álvaro. GIL, Carlos Hernández. Fracasso escolar: uma perspectiva multicultural. Porto Alegre: Artmed, 2004.
SOUZA, A. S. L. Pensando a inibição intelectual: perspectiva psicanalítica à proposta diagnóstica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1995.

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