O fracasso escolar é um campo novo de
pesquisa que os pedagogos, psicanalistas e docentes estão estudando. Mas o que é
o “fracasso escolar”? Seriam os alunos que não conseguem entender a matéria,
portanto a sociedade afirma que eles são fracassados ou seria a escola que não
consegue melhorar seus índices? Logo o Estado considera o colégio um fracasso.
Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8e-ngDIepeCmNWOiEKz8adA6UeKM6bS2QKJRYwhXZusnmvnctypaHbiRyAjW51OGAJPX2T7hXCTJ1zSFwPmlWO-atz_adZWCvEHISzAFqTLnZTac67nopL0wNUv7aOHv0ZeqGxZ8aLXo/s1600/Fracasso+2.jpg
Neste sentido já vemos uma ambiguidade
no tema fracasso escolar, o que mostra a complexidade deste assunto, mas neste
projeto vamos tratá-lo como sendo as dificuldades que as crianças possuem em
aprender em certas épocas de suas vidas, causando a repetência. Os fatores do
fracasso escolar são inúmeros, sendo que alguns são extraescolares e outros
acontecem na escola, estando vinculados aos alunos, a sociedade, a cultura ou
até mesmo na escola. O estudo sobre o fracasso escolar surgiu a partir do
momento que a escola se tornou obrigatória, em função de uma radical mudança na
sociedade. Neste período a escola passou a ter o objetivo de formar cidadãos
críticos, capazes de interagirem na sociedade para melhorá-la, sendo assim uma
educação para todos.
Segundo fonte do INEP (Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas) em 2011 constatou que os índices de reprovação
do Brasil estão elevados comparados com países desenvolvidos. O Brasil possui
6,9% de reprovação no Ensino Fundamental sendo que índices considerados bons,
cerca de 3%. Dois fatores fazem com os índices se elevem no Brasil são: a rede
pública de ensino que possui uma taxa de 10,6% de reprovação e os estados do
Norte e Nordeste que tem os piores índices nacionais. Muitas vezes uma criança
reprova seguidamente na mesma série, mas porque isto ocorre?
Um dos possíveis culpados é a própria
escola junto com o docente. A escola dita um currículo que deve ser
desenvolvido pelos docentes, sendo que as avaliações são as tradicionais
provas, todo este sistema é hierárquico e na maioria das vezes, a classe
dominante esnoba as mais baixas. Deste modo, alguns professores acabam
enxergando os alunos como um mal necessário, onde a criança deve repetir os
exercícios ou as atividades ditadas pelos docentes. Neste caso, o professor não
está preocupado com os interesses dos alunos, não o conhece. Agora, fica a
pergunta: como o professor vai ajudar as crianças com dificuldade na
aprendizagem?
Este professor não vai ajudar a criança,
ela vai reprovar de ano e o docente pensará que no ano seguinte ela vai
conseguir adquirir nota o suficiente para a aprovação. A reprovação não traz
uma nova aprendizagem no ano seguinte se o professor não mudar sua metodologia,
se ele não se preocupar o psicológico do seu estudante, sem ele confiança e
demonstrar essa confiança para o aluno, mostrando que ele é capaz de aprender.
Mas, infelizmente são poucos os docentes que fazem isso, e o pior que a maioria
dos professores não conhece os efeitos que uma reprovação causa ao aluno.
A reprovação é um fracasso escolar que
acaba abalando o psicológico do aluno, pois muitas vezes ele é menosprezado,
debochado pelos seus colegas o que acaba marcando-o profundamente. Segundo a
terceira lei de Newton, “toda ação tem uma reação”, este aluno repetente tem
grande chance de se tornar aquele aluno complicado de se lidar, principalmente
se ele estiver nos anos iniciais do Ensino Fundamental. “O problema do fracasso
escolar não é somente um problema educacional. É também um problema com enormes
repercussões individuais e sociais.” (MARCHESI. GIL, 2004, 18).
Segundo Marchesi e Gil: “uma alta
porcentagem de fracasso escolar tem sua origem direta nas carências econômicas,
sociais e culturais” (MARCHESI. GIL, 2004, 23). Percebemos que o único problema
não é o aluno, ele simplesmente é reflexo da sua vida familiar e social. Se ele
passa por dificuldade, ele mostra esta inquietação na sala de aula e seu
rendimento é inferior. Nesta idade, as crianças já passam por transformações
corporais e sentimentais, o que faz com que seu humor varie rapidamente,
implicando em problemas afetivos. Num dia o João está brigando com o Pedro, no outro
estão comprando picolé juntos, como aponta Souza (1995), os conflitos
emocionais bloqueiam a capacidade intelectual da criança, assim ela não
consegue prestar atenção, não compreende as atividades e não aprende. Portanto,
não basta a criança ser inteligente para aprender, ela deve estar bem
emocionalmente e também já ter um nível de maturidade capaz de compreender a
importância do aprender.
Segundo Bossa: “pode-se dizer que o
nível de maturação de um indivíduo para a aprendizagem depende do interjogo
entre fatores intelectuais e afetivos” (BOSSA, 2002, 24). Se este jogo não
estiver equilibrado, a criança prejudicará o processo de ensino-aprendizagem da
turma, pois ela ficará inquieta sem entender o significado do conteúdo e
tirando a atenção dos seus colegas. Já se ela estiver em equilíbrio com uma boa
atividade e com o auxilio do docente na construção do conhecimento, o estudante
terá a oportunidade e a capacidade de aprender o conteúdo.
Bossa afirma: “o apelo do não-aprender
tem na angústia o seu motor” (BOSSA, 2002, 60). A angústia pode ser
caracterizada como uma insegurança, um sentimento de incapacidade que é sentido
pelos estudantes reprovados. Por mais que o aluno fale que ele não se importe
com a sua nota, ele esta mascarando o medo de repetir a mesma série novamente,
assim ele chama a atenção na sala de aula conversando com outros colegas,
contando vantagem sobre os outros e até mesmo debochado de alguns. Essa
angústia pode ser tratada com ajuda de especialistas ou até mesmo com o
incentivo da família e da escola, o que não pode acontecer é deixar a criança
se sentir sozinha, pois deixando o jovem sozinho só vai fazer com que ele não
goste da escola, consequentemente aumentando a taxa de reprovação e
possivelmente no futuro a taxa de evasão.
Com isso podemos perceber que além de
estar bem emocionalmente, a criança deve ter um bom ambiente social, familiar
na sua casa, pois nesta faixa etária dificilmente a criança tem maturidade
suficiente para não trazer estes problemas para a sala de aula. Assim sua
cabeça esta pensativa nestes problemas e, o aluno acaba muitas vezes repetindo
as atitudes dos pais. Por exemplo, se os pais sempre estão brigando em casa, o
estudante deve vir para escola agitado, gritando com os seus colegas e
consequentemente atrapalhando a aula.
Como saber se o estudante possui
maturidade suficiente para aprender? Ou quando estão passando por problemas
afetivos ou emocionais? Isto somente a vivência na sala de aula, o diálogo com
os alunos são elementos capazes de responder esta pergunta, pois quanto mais
tempo interagirmos com as crianças, mais a conhecermos, sabendo as razões pelas
quais o processo de aprendizagem não está avançando.
A criança é reflexo daquilo que ela
passa em casa, na sociedade e na escola. Nós professores não podemos criar um
pré-conceito sobre os alunos repetentes, pensar que eles não são inteligentes o
suficiente para aprender a matéria. Nós temos que dar mais atenção, procurar
descobrir se ele esta passando por dificuldades, como é o ambiente familiar,
estes são alguns aspectos que podemos utilizar para entender a não aprendizagem
deles. Porém, muitos professores não gostam de se misturar com as crianças, se
possível querem viver em mundos separados, ignorando-os. Esses professores
estão despreocupados com a realidade das crianças, desta maneira é impossível
ajudar este tipo de aluno.
Ao trabalhar com alunos, o ideal é se
aproximar deles, se possível estabelecer vínculos afetivos, mostrando a sua
preocupação com eles. Essa preocupação não deve ser somente nos estudos, mas na
sua vida pessoal, pois nós professores, deixamos de formar especialistas e
estamos formandos cidadãos humanos, capazes de fazer o bem para a sociedade e
para si mesmo. Ser professor é trabalhoso, ser professor de alunos repetentes é
mais ainda, mas trabalhando com afeição o processo de ensino-aprendizagem se
desenvolverá melhor.
Portanto, vimos que as causas do não
aprender são muitas e, contudo, não basta ficarmos de braços cruzados esperando
uma melhora do nosso estudante, devemos buscar identificar a causa do não
aprender para depois sanar essa dificuldade da melhor forma possível. Para
encerrar, uma breve reflexão de Caio Miranda para nós professores, para
pensarmos sobre o tipo de docente que querermos ser: os preocupados com nossas
crianças ou aqueles que a desprezam. "O verdadeiro sábio avalia claramente
o quanto ainda ignora e se torna desde logo humilde e simples, condescendente e
solidário, fraternal e honesto".
REFERÊNCIAS
BOSSA,
Nadia A. Fracasso Escolar: um olhar
psicopedagógico. São Paulo: Artmed, 2002.
Brasil
tem maior taxa de reprovação no ensino médio desde 1999. G1. Disponível em:
<http://g1.globo.com/educacao/noticia/2012/05/brasil-tem-maior-taxa-de-reprovacao-no-ensino-medio-desde-1999.html>.
Acesso em 26 out. 2012.
FIALE,
Luciana Amaral. Fracasso Escolar:
família, escola e a contribuição da psicopedagogia. Disponível em:
<http://www.unifai.edu.br/publicacoes/artigos_cientificos/alunos/pos_graduacao/18.pdf>.
Acesso em 23 out. 2012.
LACERDA,
Chislaine Keile Fernandes Ruiz. Repetência
e fracasso escolar. Disponível em:
<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1049-4.pdf>.
Acesso em 26 out. 2012.
MARCHESI,
Álvaro. GIL, Carlos Hernández. Fracasso
escolar: uma perspectiva multicultural. Porto Alegre: Artmed, 2004.
SOUZA,
A. S. L. Pensando a inibição
intelectual: perspectiva psicanalítica à proposta diagnóstica. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 1995.
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