Durante o projeto decidi refletir sobre como os docentes de diversas áreas trabalham com os Números Complexos, se conhecem algumas aplicações ou se somente é ensinado de forma mecânica. Fiz um questionário que foi encaminhado para os docentes e abaixo tem uma tabela com alguns dados que achei relevante.
A pesquisa foi
realizada com 19 docentes de ensino médio, técnico e superior, em diferentes
áreas de atuação. Através da tabela acima podemos notar que a importância de se
trabalhar com a história dos números complexos é unânime. Outro dado que vale
ressaltar é que cinco docentes não conhecem aplicações deste tipo de número.
A maioria dos
professores estudaram os números complexos tanto no ensino superior como no
ensino médio, provavelmente no 3º ano. No ensino médio, muitos professores
deixam de lado o conteúdo de números complexos, possivelmente alguns por falta de
tempo, outros por não dar importância para este tipo de conteúdo. Outra
hipótese é que os professores sintam dificuldade, por ser um conteúdo diferente
e muitos alunos, possivelmente não o utilizarão.
Além destes fatores,
existe a ideia que a raiz de um número negativo não existe, pois este conceito
é passado quando é estudada a equação de 2º grau. Geralmente, os alunos acatam
essa definição como se fosse um axioma, pois poucos alunos questionam sobre e
isso, e muitos professores não apresentam o real significado desta definição.
Durante a vida de estudante, a raiz quadrada de um número negativo nunca
existiu. Imagine um professor de matemática dizer para um estudante que existe
este tipo de raiz. O que os alunos vão pensar? Como eles vão se sentir?
Fonte:
http://piadasnerds.com/wp-content/uploads/2010/04/sei-lah.jpg
Provavelmente, vão se
sentir enganados e não vão gostar de trabalhar com este conteúdo. Um professor
entrevistado colocou que o correto seria dizer: “raiz quadrada de número negativo
existe, mas não é real, é imaginário, complexo”. Fazendo esta fala, deixamos em
aberto a ideia que o campo dos números não se restringe somente aos números
reais, e que vai além deste conjunto.
Neste momento, não
precisamos apresentar toda a definição dos números complexos, e sim somente
comentar e instigar eles a pesquisar sobre este assunto. Para futuramente
trabalhar este conteúdo por completo, desde alguns aspectos históricos
interessantes até suas aplicações. Um docente de matemática colocou: “O
trabalho da história e aplicações elucida uma série de situações consideradas
obscuras ou confusas, e possibilita ao aluno uma imersão maior e mais
predisposição para o estudo dos conceitos teóricos”. Por este e entre motivos é
importante trabalhar a origem dos conteúdos estudados.
Assim, os alunos não
vão olhar com tanto espanto para este tipo de número, ao trabalhar no ensino
médio. Certamente, os jovens irão apresentar dificuldades, como foi relatado
por alguns professores. As principais dificuldades expostas são: a construção
dos números complexos no plano de Gauss (lembrando que não é plano cartesiano),
a manipulação de operações de complexos, por exemplo, ai x bi = (ab) (i x i) =
- ab. Além de operações trigonométricas, e este é um problema que algumas vezes
surge até no nível universitário. Sobre isto uma professora de Matemática
conta:
Apresentado esse
“novo conjunto”, a grande dificuldade está relacionada a um conteúdo que é
pré-requisito nesse estudo: trigonometria. Especialmente, pelo fato dos alunos
se mostrarem muito resistentes quando solicitamos representações geométricas...
Gosto muito da abordagem geométrica, pois conseguimos muitas relações apenas
analisando o plano de Argand-Gauss. Mas mesmo assim, encontrei muitos
adolescentes resistentes e querendo apenas a “receita de bolo” para encontrar a
solução através de cálculos mais diretos.
Outro problema que
existe é mostrar e entender a aplicação deste tipo de número, pois muitas vezes
só vai ser visto por estudantes que cursarem alguma engenharia. Pois, quando os
alunos enxergam a aplicação do conteúdo, geralmente aprendizagem é um processo
mais tranquilo, podendo fazer relação com outras áreas de conhecimento e
trabalhar com a interdisciplinaridade.
No ensino superior, os
acadêmicos não vão exibir muitas dificuldades ao trabalhar com os números
complexos. Alguns docentes colocaram que no ensino superior é mais tranquilo,
pois este conteúdo é apresentado no final dos currículos. Deste modo, os alunos
já superaram todas as dificuldades nesta área, sendo somente necessário fazer
uma breve revisão. Além disto, como os acadêmicos de engenharia aplicam o
conteúdo, eles estão aprendendo, pois estão vendo o significado deste conteúdo.
Achei muito
interessante a fala de um docente de Química, ele disse: “A tua pesquisa fez eu
refletir que os números complexos passaram pela minha vida acadêmica sem nenhum
significado pessoal de aprendizagem. Se há aplicações relevantes, devem ser
divulgadas e popularizadas”. E me fez refletir, quantos conteúdos eu já
estudei? Quais que levei para minha vida profissional? Por que eu sei este
conteúdo? Será que tem a ver com a aplicação? Com a história? Deixo estas
questões em aberto, para cada leitor pensar, refletir e tirar suas próprias
conclusões.
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